Este blog foi criado com a ideia de guardar e disponibilizar as informações e experiências, adquiridas em minhas aventuras e conquistas de novas vias de escaladas.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Elo Perdido

 Setor Elo Perdido - fendas e paredes verticais ainda inexploradas.


Fendinha conquistada com aprox. 30m e graduação V. 


Setor em construção!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Bolder´s nas praias de Rio das Ostras

O mega clássico Bolder da Fenda
A quantidade de proteções que já foram "derretidas" pela maresia, deixam as marcas bem visíveis nas rochas costeiras de Rio das Ostras. Devemos lembrar que para escalar bolder é necessário a utilização dos crash pads, e não de grampeação desnecessária e anti-ética. A maioria dos blocos costeiros estão localizados no Monumento Natural dos Costões Rochosos, uma APA que não permite a colocação de grampos em suas rochas, ocasionando delito grave para o pseudo-conquistador.

Na foto ao lado se pode observar a mancha causada pela oxidação do grampo, bem na parte superior do bolder.

Os vândalos de plantão também já pixaram este bloco em tempos recentes.


Fábio Gomes no bolder da Maré



A praia de Areias Negras possui uma travessia muito interessante em sua falésia principal. Segue o vídeo em dia de muito vento.


domingo, 6 de março de 2011

Parede da Santa

Localização das vias de escaladas



A via "Sonho de Criança" foi a primeira via de escalada da Pedra da Santa e da região. Foi conquistada em 1998 e contou com a participação de diversos escaladores e amigos.









A via "Santa Maria" acessa o totem da Santa pela direita, o segundo largo possui uma interessante travessia para esquerda, fazendo a virada para a barriga da santa. Esta via termina no encontro com o "Teto da Santa", onde existe apenas um grampo para a parada. O ideal é ignorar este grampo e seguir mais uns 5 metros e costurar (costura bem longa) o próximo grampo, evitando assim um grande atrito da corda para chegar ao cume do totem.









O nome Sonho de Criança foi devido a época de criança, que reconhecia a chegada na cidade de Macaé pela figura de pedra. Aos meus olhos parecia a imagem de uma santa em um pedestal, com um buque de flores e uma coroa. Nessa época imaginava um baú de tesouros no alto de sua inacessível coroa.


Os anos se passaram... quando iniciei a escalar e olhei o totem da santa... pensei de imediato _ tenho que conquistar uma via ali.


Assim foi, nasceu a via Sonho de Criança! Um grande aprendizado de o que fazer e o que Não fazer em uma conquista rssss.


Com o tempo e inúmeras repetições da via, surgiu a idéia e a necessidade de se continuar até o alto do paredão. Novamente muitos amigos contribuíram para essa realização, e o nome veio naturalmente.

sábado, 5 de março de 2011

Conquista da Sela do Frade - Pico do Frade



Diário da Conquista

Este relato foi escrito durante a conquista da via "Fábio Pé".


Eu e o Fábio estávamos nos aventurando no mundo das grandes paredes, aprendendo a conquistar uma via longa conquistando-a. Chegamos em um ponto que falamos. _ Não dá mais para conquistar e descer no mesmo dia, levamos muito tempo para chegar no último grampo e assim poder continuar, temos que dormir na parede para começar a conquista bem cedo e assim fazer render o dia.


E assim fomos aprendendo na marra, as primeiras dormidas na pedra foram sempre acompanhadas de muito aprendizado. O que levar para comer, dormir, para o frio e chuva, como arrumar a mochila, como seguir conquistando mesmo estando cagado de medo ...


Domingo, 30 de abril de 2000
Finalmente este projeto é posto em prática no dia 30 de abril de 2000.
Parti em direção a Glicério às 6:00 hs da manhã para me encontrar com Macondo e seu amigo, que até então não conhecia. Acordei os malucos e começamos a arrumar os equipamentos para partir, durante a arrumação, descobri que estávamos com apenas dois grampos. Seria um desperdício de tempo bater apenas dois grampos, decidimos parar no caminho, na Cachoeira do Roncador, para retirar dois grampos da pedra, que foram batidos para o rapel da cachoeira. Como no local haviam cinco grampos, retirar dois não seria muito problema. partimos após um rápido lanche. O Macondo foi comigo na garupa da minha moto e o amigo foi de Honda Bizz.
O caminho não foi difícil de descobrir, e após entrar na estrada “Principal” de Crubixais, seguimos após informações dos moradores até a primeira entrada a direita depois de atravessar a ponte de madeira. Nesta entrada começa o trecho complicado, a estradinha é horrível, cheia de pedras soltas e buracos enormes, só de jipe ou moto para subir. O bom é que você deixa o veículo a apenas 20 minutos de caminhada da parede.

Tomei dois tombos de moto e quase caímos feio várias vezes, quando o caminho piorava o Macondo subia a pé, para me facilitar. O amigo subiu tranquilo, a Honda Bizz é muito leve e fácil de manobrar.

Chegamos em uma casa no alto do morro e mesmo não estando ninguém, aproveitamos para beber água no tanque da área externa. Reabastecemos de água e partimos para a caminhada.

Começamos a analisar a parede para decidirmos por onde começar a via. Não foi difícil ver o caminho mais fácil desta face norte, o início seria pela rampa de inclinação suave e a medida que subia, a inclinação aumentava, até que caindo para a esquerda, chegaríamos a um big diedro até o cume. O meio do diedro parece ter um bom lugar para se preparar um bivaque, onde será deixado provisões e agasalhos velhos para qualquer emergência, pois o tempo é muito instável e o calor vira frio em poucos minutos.

Começamos a escalar às 11:00 hs após o Macondo subir a rampa até uma altura que não quisesse mais descer para preparar os equipamentos, estava apenas com as sapatilhas e preferiu esperar que chegássemos até ele em vez de desescalar o trecho que subiu.
Antes resolvi bater um grampo uns 30 metros antes de onde ele estava, pois apesar da facilidade no início da via, já estávamos a cinquenta metros do início.

Macondo esperou os cinquenta minutos pacientemente, o tempo necessário para fazer o furo e cravar o grampo.

Parti ao encontro do Macondo carregando na mochila o seu equipamento, o amigo me deu segurança no grampo que acabara de bater. Este trecho da via é muito fácil, acredito que seja um 3o Grau.

A minha corda de 35 metros não deu para chegar até o platô onde o Macondo estava, fiquei uns cinco metros abaixo e continuei sem a segurança do amigo. Encontrei com Macondo em um platôsinho muito confortável, e ele bateu logo o segundo grampo, 40 metros acima do primeiro. Eu logo dei segurança para o amigo subir até nós.

Decidi descer para bater um grampo no meio do trecho, pois estávamos apenas com dois pedaços de corda, um com 35 metros e o outro com 13 metros, e o rapel seria impossível de chegar ao grampo de baixo.

Desci levando o grampo torto comigo, deixando o perfeito para bater na próxima enfiada.

Após a exaustiva tarefa, voltei ao platô para descansar e admirar a maravilhosa vista, que a cada metro ficava mais bonita. O Macondo se preparou e subiu com minha segurança, levando apenas um grampo e duas brocas com uma das laterais da vídia quebradas.

O objetivo era chegar em um platô que estava a uns 25 metros acima, mas quando Macondo chegou lá, o platô era apenas uma barriga na pedra e não tinha segurança para bater um grampo, acima desta barriga tinha outra barriga com uma fenda vertical e depois um minúsculo platô, suficiente para bater o grampo. A passada era delicada, e tentar subir era melhor do que tentar desescalar.

Com a adrenalina a mil, Macondo fez a passada até o minúsculo platô, e começou a bater o grampo.

O tempo que já estava inconstante resolveu atrapalhar e desabou muita água, encharcando a tudo e a todos. O Macondo que já estava terminando de fazer o furo quando desabou o toró, rapidamente bateu o grampo.

O problema era descer os 33 metros com uma corda emendada de 48 metros, que dobrada dava 24 metros, faltando então 18 metros para se poder descer em segurança, ainda mais chovendo. O problema foi resolvido emendando-se tudo que tínhamos de equipamento: fitas, cordeletes, estribos e costuras. A descida começou com o equipamento de rapel até o nó da emenda da corda, cerca de 13 metros abaixo, o restante foi feito na mão mesmo, nesta hora a chuva havia diminuído um pouco, mas a pedra estava escorregadia.

Macondo chegou e logo puxamos a corda para nosso platô e então colocamos ela toda esticada com todos os apetrechos em sua extremidade inferior, o que dava para descer um pouco apertado até o início da via. O Macondo foi o primeiro a descer e rapidamente chegou na base, mas o amigo, por ser a primeira vez na pedra, levou muito tempo para descer. A minha descida foi feita em duas etapas, pois a corda teria de ser dobrada para ser retirada da pedra, e após alguns longos minutos e já com uma fina chuva, me juntei aos outros.

O retorno foi tranqüilo e sem chuva forte, pegamos a noite na estrada para Glicério e após um lanche rápido partimos eu e o amigo para Macaé, o Macondo ficou em sua casa de Glicério.


Sexta-feira, 05 de maio de 2000

Dormi demais e só acordei quando me chamaram, já era 05:50 da manhã e rapidamente me aprontei para partir. O júnior arrumou uma moto igual a minha, mas mais nova, e partimos os três: eu, júnior e seu irmão Fábio “Pé”. O caminho foi tranquilo, e rapidamente já estávamos ao sopé da montanha. A cara de animação dos dois era notável, o local mágico encantava a todos.

Iniciamos a escalada às 9:00 hs e estiquei a corda até o primeiro grampo, o Fábio e o Júnior subiram puxando pela corda para adiantar a escalada. Na segunda esticada fui com segurança do Júnior e após chegar no grampo eles novamente subiram puxando pela corda. A próxima esticada era a que o Macondo havia feito na investida anterior e era de 33 metros, decidi fazê-la para depois, com segurança de cima colocar um grampo no meio do caminho. A passada da barriga me deixou tenso e com a adrenalina a mil, pois a barriga que pensávamos que era um platô não possuia posição para se bater um grampo, e a única saída era chegar ao grampo que o Macondo havia batido. Consegui colocar um nutt no 5 em uma pequena fenda vertical, e mesmo sabendo que não estava lá grande coisa já deu uma grande aliviada na tensão. A passada não é difícil, mas a pressão psicológica elevou a dificuldade ao máximo e tive que laçar o pequeno bico do platô, para então poder respirar aliviado e com a segurança do grampo.

O Fábio subiu com a minha segurança e deixou o Júnior com os equipamentos e a incumbência de bater um grampo no meio do esticão.

Durante a abertura do furo, o Júnior deixou cair o único canudo que nós tinhamos para soprar o pó de pedra do buraco, dificultando e alongando a operação. Desta vez não estávamos com nada que pudesse servir de canudo, fazendo aumentar o trabalho do Júnior, que era de bater o seu primeiro grampo na pedra.

O Júnior terminou o serviço e juntou-se a nós. Mesmo com o grampo que o Júnior acabara de bater, a passada final ainda estava desprotegida e perigosa. Para adiantar o expediente, desci para bater o grampo enquanto o Júnior dava segurança para o Pé subir e bater o próximo grampo da via.

Quando terminei de bater o grampo e me juntei ao Júnior, resolvi comer um pouco de granola e notei a etiqueta adesiva no plástico. Não foi difícil de removê-la , servindo de canudo para os próximos furos.

O Fábio bateu seu primeiro grampo na via e seguiu animado para colocar o segundo, já com o canudinho da granola no bolso. Após terminar, desceu de baldinho e eu subi para bater o próximo, completando assim os cinco grampos que batemos neste dia.

A descida foi rápida e chegamos em terra junto com a noite, arrumamos os equipamentos e começamos a descida. O Fábio desceu na moto com seu irmão e eu desci com a mochila pesadona amarrada na traseira da minha. Durante a descida, passei por uma pedra e me desequilibrei, tombando a moto para a esquerda e fazendo com que o guidom caísse em cima do meu pé esquerdo. A dor foi insuportável, pensei que tivesse quebrado o pé, mas por sorte, após uns quinze minutos, consegui calçar novamente o sapato e partir para casa. No Sábado pela manhã tive que colocar uma tala e enfaixar o pé.


Sábado, 13 de maio de 2000

Acordei pensando que fosse 05:30 da madruga e quando ouvi o Júnior gritando o meu nome vi o relógio que já marcava 06:30, estávamos atrasados e seria difícil encontrar com o Gérson, o Bráulio e a equipe que partia para a caminhada ao Pico. Eles iam sair de Glicério as 7:00 e talvez pegássemos eles na subida da serra, o que não aconteceu, seguimos de moto até o estacionamento do início da caminhada para o Pico e lá estava a aranha do Gérson e a rural do Bráulio. Pegamos a chave da aranha no banco do motorista, como combinado com o Gérson, deixamos a moto ao lado da rural e partimos em direção a Crubixais.

A aranha do Gérson foi eleita, após esta viagem, como o carro da conquista, subiu tranquilamente os piores trechos do caminho, onde até de moto é complicado.

O Júnior ficou de co-piloto e abridor de porteiras. Após alguns abre fecha, o lado lusitano do meu amigo falou mais alto e o Júnior conseguiu se fechar em uma das porteiras bravas. Após conseguir fechar a porteira, olhou para minha cara espantado e percebeu que não estava do lado certo, foi o maior mico, sorte que só estávamos nós dois e eu não vou espalhar para ninguém.

O carro guerreiro chegou num ponto que não passava mais e como já estava perto, subimos a pé o restante. Após uma lenta caminhada para poupar o meu pé fudido, chegamos no início da via, que ainda não tem nome.

O Júnior ficou responsável por guiar até o último grampo batido e eu subiria prussikando pela corda para poupar o meu pé e agilizar a subida.

Quase chegando ao último grampo escutamos os gritos da equipe que subia o Pico pela trilha, respondemos os gritos e ficamos sabendo depois que eles conseguiram nos ver do alto da trilha, mas não conseguiram nos escutar.

O tempo estava muito instável, e por vezes chuviscou leve. A subida foi tranqüila e logo o Júnior chegou ao último grampo. Fiquei ancorado no grampo de baixo e desci o Júnior de baldinho. Apreciamos um pouco a vista das nuvens que passavam deixando tudo branco e após calçar a sapatilha, subi com a segurança do júnior até o último grampo. Já estava com todo o equipamento necessário para continuar a via, mas o meu pé doído estava me preocupando. O tempo continuava instável e poderia chover forte a qualquer momento. Resolvi esperar para ver se o tempo melhorava um pouco, pois tentar subir para grampear com aquele tempo era muito arriscado. O frio não me incomodava, pois tinha vestido o meu casaco de nylon, já o Júnior se queixava muito do frio, mas também não queria descer.

O tempo continuou na mesma e então resolvi tentar a subida até uma fenda, onde poderia colocar um cliff, subi poucos metros e não estava confiante, um tombo com o pé fudido poderia me deixar sem escalar por um longo tempo, refleti um pouco a situação e resolvi desescalar. O júnior me consolou dizendo “a pedra não vai sair daí não, maluco.” Voltei para o grampo, analisei a passada novamente, e resolvi preparar o rapel, o frio estava castigando o Júnior, que já se escondia do vento atrás da mochila.

Durante o rapel, pendulei para a minha esquerda e cheguei em um trecho mais fácil, com um pequeno platô acima, resolvi com o incentivo do Júnior, subir até este platô para bater um grampo, que embora na mesma altura que o último, estava num ponto a esquerda que tornava a minha ascensão mais fácil. Fiz o furo do grampo com a ponteira nova do Gérson, o punho acolchoado me ajudou a bater mais rápido e a ponteira está aprovadíssima.

Comecei a me sentir melhor pois mesmo com o pé fudido tinha batido um grampo. Como o Júnior estava com muito frio resolvemos descer.

Começamos a rapelar e aproveitamos para medir, pela corda, a altura de onde tínhamos parado. O primeiro rapel foi de 23 metros, o segundo e o terceiro de 25 metros, o quarto e o quinto de 19 metros e o último de 50 metros, totalizando 161 metros, aproximadamente.

Quando estávamos já quase no chão, o tempo resolveu sacanear de vez e abriu um sol lindo, a pedra ficou toda de fora e a vista estava magnífica. Nos restou o lamento de ter descido tão cedo e a bela vista do paredão da Sela do frade.


Sábado, 20 de maio de 2000

Saímos tarde de Macaé. O Fábio chegou em minha casa às 6:45 hs e fomos buscar o Macondo, que estava dormindo e demorou para partir.

O carro do Gérson (aranha) não tem limpador de pára brisa e muito menos pára brisa, tornando a viagem para o Frade muito gelada, nos obrigando a utilizar muitos agasalhos, gorro e também um capacete.

A alegria durou pouco, ao chegar em Trapiche e avistar a bela vista do Pico do Frade, ansiosos para lá estar, o parafuso da marcha caiu e o pneu furou, Tudo ao Mesmo Tempo Agora, como a música dos Titães. O desânimo me atacou de imediato, já estava tarde e com certeza perderíamos muito tempo para concertar os problemas. Conhecemos o Sr X, uma pessoa muito boa, que gosta de ajudar e nos acompanhou até o borracheiro, retiramos o pneu furado e enquanto os outros iam levar o pneu ao borracheiro, fiquei esperando no carro.

Eles voltaram com um estepe para levar o carro até a oficina e ficar esperando o nosso pneu colar. O tempo estava passando depressa e já estava com vontade de voltar, algo me dizia que não era para ir, mas o Fábio estava decidido e me convenceu de seguir. O pneu tinha sido consertado dos três furos e quando o borracheiro foi testar estava com mais um furo. Depois desta, resolvi voltar definitivamente. O Fábio encontrou com Maurício Angu e seguiu com ele para escalar enquanto eu e o Macondo pegávamos um ônibus e retornávamos para Macaé.


Domingo, 21 de maio de 2000

Deu 04:00 hs e o Fábio não chegou, comecei a ficar preocupado por dois motivos, o primeiro era saber se o Fábio e o Angu estavam bem, e o segundo era se eu escalaria neste dia ou não. Às 4:30 não agüentei mais e fui para a casa do Fábio, olhei pela fresta da garagem e vi a aranha, respirei aliviado e toquei a campainha. Rapidamente apareceu o Fábio na janela me sinalizando para esperar, subi a sua casa e após um rápido café partimos para a serra.

O Fábio foi abastecer a aranha enquanto eu voltava para casa para deixar o carro com a Simmone e pegar uns agasalhos. Rapidamente ele chegou e logo no início da viagem percebemos que a tampa da gasolina tinha caído ou o frentista do posto esqueceu de tampar. Improvisamos com um pano e partimos para a serra.

No caminho o Fábio me contou da aventura do dia anterior.

Chegamos às 10:40 hs com a aranha no final da estrada, começamos a caminhar logo em seguida com pequenas paradas para beber água e admirar a vista. O Fábio começou escalando às 11:30 hs. Para agilizar, vim subindo atrás de prussik e assim poupar também o meu pé esquerdo que ainda estava baleado.

O dia estava nublado e permaneceu assim por toda a tarde, foi necessário escalar todo agasalhado para evitar o frio, mas pelo menos não choveu.

Estávamos decididos a chegar ao platô dos Rolling Stones (nome escolhido devido ao grande número de pedras soltas) mas o meu pé me impediu de calçar a sapatilha e a conquista neste dia ficou por conta do Fábio, que com muita determinação, venceu passadas longas e difíceis para conseguir chegar ao platô.

A primeira passada teve de utilizar o cliff em um pequeno bico de pedra, muito sinistro, com uma vaca de 8 metros fácil. O platosinho nada confortável deu para bater o grampo e então ele partiu para a segunda passada. Um trecho sem muitas agarras, e como já estava bem acima do grampo, o Fábio bateu um piton angle no 1 em uma fenda vertical (laca podre) muito sinistra, mas que deu para aliviar a mente e seguir em frente, chegando no platô.

O tempo já estava curto quando subí de prussik até o platô e apreciamos a vista um pouco mais de cima, já agilizando tudo para a descida.

O meu pé me fez amarelar legal, mas só em ficar de segundo num local maravilhoso já valeu o dia.

O rapel noturno foi inevitável. O difícil era localizar os grampos abaixo na escuridão, nem mesmo a lanterninha evitou o perrengue da busca, que teve direito até a corda embolada.


Sexta feira, 26 de maio de 2000

A conjuntivite me ajudou a evitar um dia de trabalho, e com o Fábio ainda em terra, partimos para a serra. O carro oficial ficou vetado para concerto, pois iria competir no sábado na festa do Frade. O jeito foi partir de moto mesmo.

Bráulio passou na minha casa a noite para pedir a moto emprestada para ir a Glicério. Como ele tinha uma rural e eu não queria pegar frio na estrada, fizemos a troca da moto pela rural só até Glicério, onde nós destrocamos e seguimos até o alto de Crubixais na moto.

Estávamos decididos a economizar o tempo e chegar cedo na pedra, saímos de Macaé às 04:00 hs da matina, mais tarde que o combinado (como sempre) e chegamos em Glicério com o dia clareando. Perdemos um tempinho de papo com o Bráulio e partimos já de moto. A mente já estava despoluída e a sede da conquista tomava conta de nós. O caminho foi tranquilo até a ponte de madeira, onde logo após pegamos o trecho ruim do caminho, a subida até a base da pedra. Como na investida anterior o Fábio fez todas as passadas, já sabíamos que eu seria o primeiro na conquista deste dia, mas como o meu pé não estava 100% legal, o Fábio guiou até o início do trecho mais complicado, deixando para mim o trecho por ele conquistado anteriormente.

Coloquei a sapatilha decidido a fazer rápido as passadas até o platô do Rolling Stones, mas logo no início me enrolei no trecho em que o Fábio teve de utilizar o cliff e como não queria dar chance para o azar, pedi ao Fábio que me passasse os estribos com o cliff e segui em frente até o platô. A passada para chegar ao platô é bem chatinha, com muitas pedras soltas. Preferi seguir pela esquerda de onde o Fábio tinha passado no domingo, e cheguei ao platô.

Preparamos um rápido almoço, pois já eram 12:40 hs, com direito a biscoito cream craquer recheados com atum e sobremesa de chocolate e granola, tudo regado com muita água.

Após o rango, um digestivo para subir, e já estava pronto. Comecei a conquistar às 13:30 hs, muito tarde para o que havíamos proposto. Rapidamente fiz a passada até um pequeno platô onde pude bater o grampo sossegadamente. O Fábio começou a me sacanear, dizendo que essas passadas eram mole e que depois as difíceis ficariam com ele. Realmente estava muito fácil, mas as puxadas também eram boas, uns oito metros para a primeira e uns seis metros para a segunda. Após bater o segundo grampo, também em um pequeno platô, desci para dar vez ao Fábio, que já estava espumando.

O Fábio começou já eram 15:00 hs, estava tarde, e provavelmente só daria tempo para bater um grampo, pois não queria passar o perrengue de procurar grampos à noite. Após fazer a passada, não havia bom local de parada para bater um grampo e o Fábio resolveu bater o grampo em um minúsculo platô, não podendo mudar o pé de posição, cada marretada era um suplício. Não demorou muito e o grampo já estava batido. Aproveitando a rapidez do primeiro grampo, Fábio seguiu para bater o segundo, uma passada de aderência até outro minúsculo platô. A tentativa de subir mais não deu certo e o Fábio resolveu bater o grampo ali mesmo.

Com o segundo grampo batido, Fábio começou os preparativos para descer e eu iniciei os preparativos para comemoração. Fábio rapelou até o platô dos Rolling Stones e após as devidas comemorações, partimos para a terra firme.

A corda bacalhau que levamos foi fixada no último grampo que o Fábio bateu e rapelamos por ela até a grampeação dupla para o próximo rapel, cinquenta metros abaixo. Esta manobra agilizou muito a descida, deixamos a outra extremidade da corda fixa em um dos grampos e partimos com o rapel de cinquenta metros (duas cordas emendadas).

Para agilizar a descida e não pegar noite no rapel, resolvemos descer cada um em uma das cordas, fazendo um rapel duplo. Desta maneira conseguimos chegar ao chão junto com a noite.

Não podemos esquecer de lembrar que qualquer vacilo com este rapel duplo pode ser trágico, e quase foi. Esta descida deve ser feita sempre com auxílio de um prussik e as pontas inferiores das cordas devem estar unidas por um bom nó.

Preparamos de qualquer maneira as mochilas, entulhando as coisas para partir logo. A descida foi feita de head-lamp até a moto.

A moto demorou para pegar e tivemos que deixá-la descer para tentar um tranco. Após o motor roncar partimos cautelosamente pelo difícil terreno abaixo. Durante a cansativa descida, o Fábio descia a pé nos trechos mais difíceis para facilitar a passagem da moto. Cheguei a pensar que estava melhorando na pilotagem da moto naquele terreno difícil, pois ainda não tinha caído nenhuma vez. Foi pensar e ir para o chão. A moto deu um vôo para a esquerda e caiu novamente sobre o meu pé esquerdo ainda fodido pelo tombo anterior. Me rolei no chão de dor, achando que agora tinha ferrado de vez o pé. A dor foi diminuindo muito devagar e fui sentindo que a porrada não tinha feito estragos muito grandes. Continuamos a descida, agora com a moto toda troncha, pois o guidom tinha ficado tordo na porrada, o punho esquerdo estava para dentro e foi necessário muita porrada de pedra para ele voltar um pouco para o lugar.


Sábado, 01 de julho de 2000

Estava tudo combinado, eu e Fábio partiríamos na Sexta feira às 24:00, depois que o trabalho do Fábio, na igreja, terminasse. A ansiedade já me dominava, estava na PMRO quando o Fábio ligou com a possibilidade de ganhar uma grana levando quatro gringos até o Pico do Frade, pelo caminho natural é claro. De início fui contra, embora a idéia de ganhar quatrocentos reais fosse animadora, estava a um mês sem retornar a via. Com a possibilidade de deixar para domingo a conquista, resolvemos o problema e partimos às 06:30 de Sábado no lunauto e os gringos em uma blazer.

Uma pequena parada em Glicério para um café e logo estávamos deixando o carro para começar a caminhada. Os gringos eram o Mike, superintendente da NOBLE, John, Harry e Gerry. Também estava a Elaine, secretária da NOBLE e a única a falar português, embora o Mike arranhasse um pouquinho. O Harry já tinha escalado grandes montanhas no Himalaia e em Yosemit, sendo de grande ajuda para auxiliar os outros totalmente inexperientes.

O Mike não quis continuar até o topo, ficou esperando no ponto de decisão, o Fábio guiou a cordada e o Garry foi o primeiro a seguí-lo de prussik, juntamente com o John e o Harry, eu seguia logo atrás do Harry.

Pude notar o estrago que o fogo fez na vegetação do topo, mas a Sela do Frade não estava tão devastada assim.


Domingo, 02 de julho de 2000

Estávamos exaustos do dia anterior e acabamos atrasando a partida, cheguei na casa do Fábio às 04:00 hs e não às 02:00 hs como combinado. Com este atraso, o nosso objetivo estava prejudicado.

Resolvemos parar em Tapera para um café com pãozinho e seguimos até o final da estrada. O equipamento estava da mesma maneira que nós deixamos no dia anterior e perdemos um tempão arrumando, foi quando o dono da propriedade, o Sr Antônio Leal, chegou montado em um burro. Ficamos conversando enquanto arrumávamos os hall bags e derrepente o Fábio vacilou e o hall bag começou a rolar moro abaixo, rapidamente o Fábio correu até pega-lo, evitando que descesse até o fim do morro. O burro muito cabreiro tomou um susto e fugiu, mas foi rapidamente capturado. Depois foi a minha vez de deixar o hall bag rolar, e tive que correr e pular para que não descesse direto, assustando novamente o burro, mas desta vez o bicho fugiu até o pé do morro, dando o maior trabalhão para o Sr. Antônio Leal.

Terminamos de arrumar as coisa e partimos a caminhar. O dia estava belíssimo, apenas o vento estava forte, me preocupando um pouco. A fraqueza do corpo era compensada com guaraná em pó, ginseng e um complemento vitamínico.

Ao pé da montanha, começamos a arrumação para subida, e o Fábio iniciou levando nas costas o hall bag menor com os agasalhos e eu fui atrás de prussik, carregando um pesado hall bag. A corda fixa que deixamos da última vez adiantou o pior trecho da escalada.

Como chegamos ao último platô confortável na hora do almoço, cerca de 12:40hs, resolvemos fazer uma boquinha. O cardápio foi atum com biscoito cream craquer e água, um verdadeiro luxo. De sobremesa, uma barra de chocolate ou banana passa.
Após o rango, estava na hora do que interessava, ou seja, como diria o super homem..., para cima e avante.

O Fábio puxou a cordada e iniciou o que parecia ser uma passada tranquila. Parecia, mas não foi. A cada metro que subia ele caminhava mais para a direita do que devia, a via forçava o caminho para a direita e aumentava o pêndulo no caso de um tombo. Como estava muito arriscado, o Fábio bateu um grampo cerca de seis metros acima do último.

Já com a proteção do grampo que acabara de bater, o Fábio começou a subir tentando ir para a esquerda e chegar o mais próximo possível do diedro. Durante este trecho, teve de passar por sobre uma bromélia em diagonal para esquerda, onde a corda de içar equipamentos ficou presa em um bico de pedra. O Fábio ficou doido, gritou e eu pensei que fosse o arraste da corda principal, não vi que a outra estava presa, justamente no momento de maior precisão por parte do escalador. Respondi que ele tinha que puxar mesmo, que era apenas o arraste, foi quando vi a outra corda presa e rapidamente a soltei. Quase que é vaca, Fábio ao conseguir chegar em um ponto mais tranquilo desabafou o cagaço de um quase tombo de quatorze metros em pêndulo.

Com os nervos abalados, o Fábio continuou para bater o terceiro grampo, o tempo já estava adiantado da hora e já prevíamos a descida a noite.

Iniciando em baldinho, o Fábio foi puxando para esquerda o máximo possível, até alcançar um trecho mais fácil e continuou subindo e tendendo para a esquerda, chegou em um ponto favorável para bater o outro grampo e meteu bronca. O frio, que já estava incomodando, piorou bastante, pois estava parado fazendo segurança e com o cair da noite tive que pegar todos os agasalhos para me aquecer. O meu companheiro de cordada, aquecido pelos grampos batidos, não estava incomodado com o frio e queria continuar a conquista. Não foi difícil convencê-lo do contrário. Já eram 18:20 e se começasse a descer naquele momento, só conseguiríamos chegar em casa por volta das 12:30. Com este argumento começamos a descer.


Sábado, 22 de julho de 2000

Tinha combinado com Fábio dele me buscar às 24:00 hs, que seria o horário que eu retornaria da inauguração do restaurante da Rose, mas Só retornei às 01:00 hs e fui direto para a casa do Fábio, mas não estava mais lá. Corri para casa pensando que ele estava me esperando no portão e também não o encontrei. Comecei a me arrumar, e eles apareceram, o Macondo veio também. Partimos os três às 01:30.

Fui dirigindo ao lado do Fábio e o Macondo foi atrás junto com o estepe e as mochilas. Faltando pouco para chegar na casa onde sempre deixamos o carro, o pneu furou. A troca foi complicada, pois o carro ficou inclinado e quando era levantado pelo macaco, quase caía para trás.

Trocamos o pneu e seguimos até a penúltima casa, onde sempre pegamos água e deixamos o carro. Iniciamos o trecho de caminhada por volta das 03:30 hs. O frio era forte mas o ritmo da caminhada mantinha o corpo aquecido.

A arrumação dos equipamentos teve de ser à luz da lanterna do Fábio.
Eu guiei até o platô dos rolling stones, com os dois subindo de jumar para adiantar o dia. A passadinha final no trecho cheio de pedras soltas estava com a corda fixa, mas a passada do cliff foi feita em livre pela primeira vez, embora não seja difícil, é adrenalizante.

Os equipamentos, sempre muito pesados, estavam distribuídos em três pessoas desta vez, fazendo a subida mais fácil. O nascer do sol foi vislumbrado por volta das seis horas, um pouco antes de atingirmos o platô, onde deixamos da outra vez alguns equipamentos dentro do hall bag.

A corda fixa ia até o último grampo batido pelo Fábio na vez anterior, a esticada até lá foi feita pelo Macondo, com segurança minha. Subi de jumar até me juntar ao Fábio e o Macondo subiu logo em seguida, ficando um grampo abaixo. Após as devidas arrumações no equipamento, segui cheio de disposição para bater o próximo grampo da via. A passada tinha que tender o máximo para a esquerda, para poder acessar o diedro que nos levará até o cume. Estiquei uns oito metros quase que na horizontal, tornando a minha queda um pêndulo perigoso. Consegui um pequeno apoio para os pés e bati o grampo numa posição péssima.

Costurei e segui para a próxima passada. Mantive uma linha horizontal e estiquei novamente uns oito metros, a posição em que estava era horrível, não tinha uma boa base para os pés e foi sem dúvida o grampo mais desconfortável que bati.

Fiquei exausto após bater o grampo e passei a bola para o Fábio, que já estava eufórico, pois o diedro estava muito perto.

Passei a dar segurança para o Fábio enquanto o Macondo descansava pendurado no seu grampo.

Ele seguiu na horizontal até chegar em um pequeno diedro que descia para a esquerda, chegando bem perto do início do diedrão. Como estava com pressa resolveu não bater o grampo neste ponto e fez uma passada até um platô logo acima, onde bateu o seu primeiro grampo do dia. A passada então continuou para a esquerda e chegou no trepa mato de acesso ao diedro. A passada era complicada, pois o misto de rocha, pedras soltas, terra e mato, tornam a ascensão mais arriscada. O Macondo então avisou que a corda estava acabando para ele e como era a única ligação com o grupo, teve de improvisar uma emenda com fitas para o Fábio poder bater o grampo no local certo.

Com o grampo batido, Macondo partiu para o diedro jumareando, me deixando com a incumbência de deixar uma corda fixa para a volta, pois com uma passada tão horizontal, o retorno de rapel ficaria impossível.

Deixei a corda bacalhau fixada no grampo e fui com uma mochila pesadíssima para o diedro. Finalmente, após tantas vezes achar que chegaria e fracassar, conseguimos o nosso objetivo do dia.

Que surpresa, o início do diedro possui um belíssimo platô, com direito a água corrente e a poltrona de pedra, uma vista maravilhosa tanto para baixo como para cima.

O almoço veio logo em seguida, sardinha com biscoito cream cracker, um luxo, regado com muita água, ainda mais agora, com uma nascente passando por sob as nossas pernas.

Como o Macondo não tinha batido nenhum grampo, subiu um esticão de aproximadamente 15 metros e bateu o próximo, desceu rapidamente para irmos embora, pois a volta teria um trecho em horizontal que com certeza não queria fazer de noite e sem lanterna. Fui o último a chegar e o primeiro a sair do diedro, deixamos alguns equipamentos e suprimentos, para nas próximas subidas aliviar o peso.

Este dia foi marcante por dois motivos: finalmente chegamos no diedro, após várias vezes achar que chegaria e ver que faltava mais um pouco e novamente e novamente ...
E nunca perdemos tanto equipamento.
-          Perdi uns quatro ou cinco grampos quando arrumava os equipamentos para grampear.
-          O Fábio deixou uma fita da costura laprade cair.
-          O Macondo perdeu o ATC durante o rapel noturno.
-          A minha lanterna de cabeça da Petz junto com uma bolsa de pilhas e outra lanterninha de mão sumiram.

Que prejuízo! Agora estou sem lanterna.


Sábado, 29 de julho de 2000

Partimos eu e o Fábio de moto na madruga e quando chegamos na penúltima casa para deixar a moto, percebemos que o pneu traseiro da Saara estava quase vazio, um contratempo que naquela hora resolvemos ignorar, a vontade de escalar falava mais alto.

Partimos para a caminhada com as mochilas super pesadas, o Fábio tinha comprado um rolo fechado de corda tipo caminhoneiro de 8mm que junto com o restante dos equipamentos, nos transformou em burros de carga.

Caminhamos lentamente até a base, onde começamos a arrumar os equipamentos para subir ainda no escuro, o dia foi clareando quando começamos a subida. O Fábio subiu guiando e eu com o rolo de corda na mochila. Quando chegamos no platô dos Stones, desenrolamos a corda e deixamos uma ponta amarrada neste grampo e subimos com a outra de reserva.

Continuamos até o diedro, onde preparamos o rango e tomamos os energéticos para começar a conquista. O Fábio foi na frente até o grampo que o Macondo tinha batido na semana anterior, costurou e seguiu até um platosinho onde bateu o segundo grampo. Com a segurança de cima, subi rapidamente ao seu encontro e após a troca dos equipamentos, parti para bater o próximo grampo.

A rocha possui vários pontos para ancoragem móvel, aproveitando disso, bati um pitom e coloquei alguns friends até esticar uns quarenta metros, onde após umas passadas exigentes e uma ancoragem no tronco de árvore, bati o próximo grampo.

Puxei a corda e rapelei até o pitom, onde rapelei novamente até o Fábio e descemos até a base do diedro. Como estava com pressa, pois tinha a festa do César Sabino para ir, preparamos tudo para partir.

O rapel foi feito na corda que levamos e a cobaia fui eu. Durante a descida, a corda ficou presa em uma bromélia no trecho horizontal da subida. O jeito foi forçar o rapel para a direita até chegar na bromélia, mas daí se retirada a corda, o pêndulo era de aproximadamente uns 20 metros e a ralada era inevitável. Com jeitinho consegui forçar uma oposição e soltar a corda da bromélia, mas quando estava retornando para a posição vertical da corda, perdi o equilíbrio da oposição e pendulei os 20 metros rente a parede, por sorte estava de luvas de couro e só ralei o antebraço direito, até bater com violência em outra bromélia gigante, o coração veio até a boca.

Após o susto, comecei a descer rápido até o platô dos Stones. Durante a descida dei uma pequena parada para olhar para cima e senti um cheiro estranho de borracha queimada, o susto foi maior quando percebi que o cheiro vinha do freio oito que estava muito quente em contato com a corda. Com o susto, comecei a descer devagar para não deixar um mesmo ponto da corda em contato com o freio e fui até o platô, cerca de 80 metros abaixo do diedro.
O Fábio começou a descer após eu ter fixado o meio da corda no grampo do platô. Avisei, aos gritos, para não parar até chegar onde eu estava, pois a corda poderia ficar danificada com a temperatura (corda de naylon).

Continuei descendo até o fim da corda e cheguei no terceiro grampo de baixo para cima. Fiquei espantado com o tamanho da corda, que foi comprada por peso e que deve ter aproximadamente uns duzentos e cinquenta metros.


Sábado e Domingo, 14 e 15 de outubro de 2000

Tudo combinado, partíamos às 01:10 horas, Eu, Fábio e Marcelinho. O Iremir quebrou um galhão, foi conosco até Crubixais para retornar com o carro e devolvê-lo a Luana, depois, no Domingo à tarde voltou a pegar o carro com Luana e retornou a Crubixais para nos buscar.

Esta incursão ao Pico foi com certeza uma das melhores.

Chegamos por volta das 3:00 hs no ponto final da barca, descarregamos as mochilas, conversamos sobre a escalada e nos despedimos de Iremir, que fez meia volta e seguiu o caminho de Macaé. Quando terminávamos de arrumar as mochilas, ouvimos o barulho do carro se aproximando e ficamos curiosos achando que não tivesse conseguido passar por uma íngreme subida, mas a surpresa maior quem ficou foi o Iremir, que botou a cara para fora do carro e perguntou _ o que vocês estão fazendo aqui? Foi inédito, ficou para a história.

Após uma longa sessão de risos, começamos a caminhada até o pico, foi minha primeira longa caminhada, mas o Fábio já havia feito este caminho outras vezes, e fomos cortando caminho pelo pasto para chegar mais rápido.

Após duas horas carregando as mochilas mais pesadas do mundo, chegamos na base da pedra. Começamos logo os preparativos para subir, arrumamos os equipamentos e tomamos o guaraná em pó para dar uma levantada na disposição.

Fui na frente, levando uma mochila mais leve, pois tinha que escalar até o terceiro grampo para pegar a ponta da corda que deixamos da vez anterior. Jumareamos bastante até chegar no platô dos Stones, onde a corda fixa segue até o início do diedro, cerca de 80 metros acima. O Fábio, da vez anterior que esteve lá, bateu um grampo no meio do caminho, que nos permitiria jumarear na corda fixa, tendo como segurança duas cordas de 50 metros emendadas e costuradas no grampo do meio do caminho. Este trecho eu dei as honras para o Fábio, que partiu sem reclamar. Após chegar no diedro, ancorou a ponta da corda nos grampos e o Marcelinho seguiu. Fiquei por último e quando puxei a corda fixa, ela ficou presa em uma raiz, como percebi que estava muito resistente, resolvi esticar a corda e iniciar assim mesmo, quando soltei minha ancoragem, a raiz se soltou e cai para trás, me agarrando na pedra. Como era um local menos inclinado, consegui me segurar na pedra e assim permaneci até ter certeza de que minha corda ainda continuava lá para me garantir, foi um susto e tanto, que me rendeu um buraco na primeira articulação do meu dedo mínimo.

Após o pesadelo, o pior estava por vir, subir aquele trecho mais inclinado, jumareando, com uma mochila pesadíssima nas costas e com um dedo doendo e sangrando.

Nos reunimos no diedro e começamos o almoço após encher as garrafas com água da pedra. Nos reanimamos e partimos com o objetivo de procurar um bom abrigo para passar a noite. O Fábio puxou a guiada até o último grampo e nos juntamos a ele para reiniciar a conquista.

Havia duas oportunidades, cair pelo sujo diedro, onde o Fábio tinha passado na semana anterior, ou ir pela pedra, que embora mais difícil e demorada seria muito mais limpa e agradável. Como estávamos com pressa para preparar o bivaque, fui na frente pelo diedro e estiquei quase os cinquenta metros da corda, o arraste ficou horrível. Bati um grampo e veio o Marcelinho e o Fábio.

Estava escurecendo e o local era horrível para dormir, parti levando uma lanterna para procurar um local para dormir, achando que no platô acima, encontraria um bom lugar. Que decepção, o platô não passava de um rampão de terra cheio de vegetação. A medida que ia subindo, a vegetação foi crescendo e a segurança dos galhos era muito bem vinda, nesta altura já estava breu total e só enxergava o limitado foco da lanterna. Passei por uns arbustos robustos e segui achando que acima da vegetação ainda encontraria um platô confortável, mas não encontrei nada, decidi fixar a ponta da corda por uns arbustos firmes e voltar e arrumar um lugar para esticar as redes e descansar. Veio a dupla dinâmica e preparamos o bivaque. O clima estava agradável, tanto que decidi não colocar todo o meu agasalho, deixando o casacão de capote na mochila, que arrependimento. A madrugada esfriou muito e chuviscou, como para buscar o casaco na mochila ia ser muito complicado, resolvi relaxar e puxar o gorro para não chover na cara. Foi uma noite incrível, a lua cheia ficou no céu clareando a pedra um bom tempo.

Cercado de pedras, o pequeno pedaço de céu que se podia observar sobre as nossas cabeças, variou bastante durante toda a noite, hora era uma noite estrelada, em seguida, um céu com lua cheia, depois chovia e tornava a limpar. Uma ótima experiência para a alma.

A preguiça nos deixou na rede mais tempo do que devíamos e partimos para a conquista mais tarde do que prevíamos.

Segui até a ponta da corda acompanhado pelos dois, e parti para bater o próximo grampo. Fiz uma horizontal para esquerda e subi por um trecho muito instável, cheio de pedras soltas e terra socada, até chegar no alto de um bloco de pedra, muito parecido com o cume da “Santa”. Deste ponto subi uns dez metros, até um platô muito sedimentado. Bati outro grampo e chamei a dupla. Desci até o bloco e dei a vez para o Fábio, que já estava seco para conquistar.

O Fábio passou pelo grampo e seguiu pelo pequeno diedro para bater o próximo, enquanto eu descia pela outra corda para bater o grampo por onde faríamos o próximo rapel de 50m. Tive de esperar um pouco até o Fábio bater o grampo e descer junto com o Marcelinho para prepararmos o próximo rapel, sem saber se seria necessário bater outro grampo, desci levando o equipamento necessário, mas felizmente a corda chegou a conta até onde havíamos deixado parte dos equipamentos. Daí para o platô oficial foram mais dois rapeis.

Chegamos por volta de 12:30hs no diedro, pois tínhamos que encontrar com Iremir às 21:00hs, e como achamos que chegaríamos mais cedo do que o previsto, ligamos para ele avisando que por volta das 19:30hs já estaríamos lá. O problema foi que fomos comer e conversar, viajar no visual das montanhas, imaginando outras vias de escalada e demoramos muito para continuar a descida. Quando percebemos que ligamos antecipando a vinda de Iremir a toa, começamos a agilizar para não deixar o cara esperando muito tempo lá embaixo, pois ainda teríamos uma longa caminhada pela frente. O próximo rapel o Fábio desceu com o Marcelinho para ele bater o outro grampo da parada e em seguida foram vários rapeis até a base da pedra, chegando lá por volta das 19:30hs, a hora que deveríamos chegar na estrada principal de Crubixais.

Arrumamos tudo muito depressa e começamos a correr pelas trilhas, o Fábio partiu na frente com muita disposição, botando para baixo nas pirambeiras e cortando o caminho por entre o pasto, mas acabou errando o caminho, e tivemos que voltar um pedaço para encontrar a estradinha novamente. O Iremir estava lá esperando com o carro do Fábio, e após trocar umas idéias, partimos para casa, eu particularmente exausto.


Domingo, Segunda e Terça, 29, 30 e 01 de abril/maio de 2001

Saímos de Macaé nas primeiras horas da madrugada, eu, Fábio Pé e o Alberto. Com a ajuda do meu coroa que emprestou a caranga, não precisamos ir com as motos e partimos as 0:30hs. Tivemos que estacionar na estrada principal de Crubixais, a caminhada até a base da via foi muito cansativa, com 3 mochilas pesadíssimas, uma para cada e ainda um hallbag sendo revezado de dois em dois.

Ao chegar na bica para abastecer os cantis, surgiu a dúvida se o diedro teria ou não água, pois estávamos num período de seca. Na dúvida, resolvemos encher as 4 garrafas de bigcoke, aumentando o nosso peso em mais oito quilos.

Finalmente chegamos cansados na base da via, e com uma rápida arrumação, partimos com o objetivo de tentar conquistar, nesta investida, o pico da Sela do Frade.

Utilizamos uma corda bacalhau deixada na pedra para agilizar nossa subida, jumareava no bacalhau, mas ia costurando os grampos com a outra corda e ainda levava outra pendurada na cadeirinha. Quando esticava a cordada, fixava as duas cordas boas e os outros dois subiam jumareando e revezando o hallbag.

Utilizamos esta técnica até o platô dos Stones, onde a passada com a corda fixa não é pelo mesmo caminho da via e não temos os grampos para costurar, temos que confiar na corda bacalhau. As honras da esticada ficaram comigo e como não queria dar mole para cojaque, levei a furadeira nas costas e bati dois grampos intermediários ao esticão de 50 metros. A continuação após o grampo duplo possui uma proteção intermediária e não precisei bater outro grampo. Quase cheguei ao diedro, mas tive que esperar no grampo intermediário pois a corda não dava para chegar ao diedro. Fixei a corda no grampo e o Alberto subiu jumareando até onde estava, quando o Fábio chegou no grampo duplo, recolhemos a primeira corda e fixamos a Segunda para ele subir, enquanto eu esticava até o diedro com a outra corda para adiantar.

Chegamos ao diedro bastante cansados e começamos a encher as garrafas com água e preparando o rango, tínhamos a intenção de chegar no segundo ponto de bivaque ainda este dia, mas perdemos muito tempo na subida e resolvemos dormir esta noite ali mesmo. A noite estava tranqüila, o céu estrelado e não estava fazendo muito frio, o Fábio tinha deixado a sua rede pendurada em um dos grampos desde a última vez, e quando abriu a bolsa, estava todo molhado e fedendo. Como não tinha outra rede, preparou de estica-la na pedra para secar e quando foi se deitar, durante a noite, a rede começou a rasgar, obrigando-o a dormir na pedra, apenas com o saco de dormir para lhe amortecer as costas.

O dia clareou e começamos os preparativos para reiniciar a subida. A noite não tinha sido muito boa para o Fábio, mas eu e o Alberto tínhamos dormido muito bem.

O Fábio subiu utilizando a corda bacalhau para adiantar e ia costurando nos grampos que passava com a corda boa, levamos os equipamentos até ele jumareando e quando chegou no ponto de entrar no diedro sujo pela direita, a vez foi minha. Esticando novamente por entre mato, terra e pedra, tive de deixar minha mochila para trás pois não havia corda bacalhau para auxiliar, fui guiando e deixando a segurança móvel para ser tirada pelo próximo. Cheguei no grampo e verifiquei que o suprimento que havia ficado lá da última vez não sobrou nada, até a garrafa de álcool havia se rompido e vazado, só serviu para colocar tudo no lixo. A chuva veio enquanto esperava e o frio começou a incomodar, estava com os agasalhos na mochila e comecei a ficar encharcado. O Alberto veio em seguida com sua mochila, a chuva parava e continuava, nos atrasando muito e finalmente veio o Fábio. O Alberto ficou incumbido de chegar até as árvores do bivaque com sua mochila enquanto eu e o Fábio voltávamos para buscar minha mochila e o hall-bag, a esta altura a chuva deu uma trégua, mas já estava escurecendo. Chegamos de noite no ponto do bivaque, e o Alberto preparou o rango de miojo, um para cada e ficamos tristes de lembrar que eu esquecera sete miojos em casa e alguns pacotes de biscoito.

Preparamos as redes para dormir e o Fábio fez um nó acima do rasgo de sua rede e conseguiu deitar, estávamos conversando quando um barulho de pano se rasgando me fez cair na gargalhada, a rede do Fábio que estava podre começou a rasgar devagarinho. O Fábio falava _ não ri não, não ri não maluco_ e quando se mexia rasgava novamente. Não teve jeito, dormiu no chão meio incerto, com a rede de isolante e o saco de dormir. A preocupação se iria chover ou não nos fez armar as lonas plásticas a toa, pois não choveu durante a noite, o céu estrelado se encobriu por vezes mas a água não veio.

Acordamos e iniciamos os preparativos para a conquista. Estiquei novamente este trecho até o platô que lembra o cume da “Santa” e bati outro grampo num blocão de pedra, o Alberto chegou em seguida. Enquanto o Fábio se juntava a nós, o Alberto me dava segurança para continuar até o último grampo batido pelo Fábio.

O Fábio tinha deixado um friend preso na pedra da última vez e para retirá-lo foi foda. Cheguei no último grampo e o Fábio veio ao meu encontro para finalmente iniciarmos a conquista.

Estávamos sobre um platô que possuía um bico mais elevado e meio podre, recolhemos uma corda e o Alberto veio jumareando, a corda foi posta sobre o platô e quando encostamos no bico, este quebrou e um bloco de pedra de uns 80 kg caiu sobre a corda. Ficamos horrorizados com a possibilidade de perder uma corda e começamos a tentativa de resgatar a corda. Levantar o bloco não dava, o jeito foi marretar os pedaços e diminuir o peso do bloco até conseguirmos tirá-lo de cima. Para nossa felicidade a corda não se danificou acredito que por ser muito quebradiça.

Iniciei a conquista por um trecho muito interessante, subi abraçando um bloco de pedra até ficar em cima para bater o próximo grampo e passei um sufoco para equilibrar e furar ao mesmo tempo, me cansando muito. O Fábio estava próximo e seco para conquistar, então dei a vez para ele que subiu até o grampo que acabara de bater e entrou por um trecho difícil, sendo necessário a colocação de pitons e subindo em artificial. Com o trecho cansativo, o Fábio colocou alguns pitons e resolveu descer, conversamos um pouco e parti para mais uma tentativa, coloquei os pitons e com auxílio dos estribos ia subindo vagarosamente e retirando o piton de baixo para colocá-lo novamente em cima, pois só tínhamos dois.

Consegui chegar no topo da parte crítica e visualizei um trecho bem mais inclinado e fácil, puxei a furadeira e tratei de bater o próximo grampo. A vista do cume não estava mais tão distante, mais uns 100 ou 150 metros e estaríamos lá e ainda em um trecho bem mais fácil. Consultei o relógio e o pessoal, eram 15:00 horas e decidimos descer, os compromissos nos esperavam no dia seguinte e embora a vontade de continuar fosse grande, desci para me juntar aos outros. Deixei uma corda bacalhau presa no grampo para auxiliar na próxima investida e começamos os preparativos para descer.

Fizemos um rango no diedro e botamos para baixo, conseguimos chegar com os pés no chão por volta de 24:00 horas, nove horas aproximadamente para descer do último grampo até o chão.

A caminhada foi devagar, todos estavam exaustos e não viam a hora de chegar em casa, mas ninguém queria descer depressa, ainda mais com todo aquele peso nas costas. Chegamos no carro perto das 03:00 e só ligou no tranco, por sorte estava na descida e não foi preciso empurrar muito, o Alberto veio dormindo atrás e eu morrendo de sono vim dirigindo.


Sábado, 00 de setembro de 2001

Fomos em dois carros, o Jonatan e a Tália e eu o Júnior e o Herald no outro. Saímos de noite e tivemos que caminhar muito. O céu estava lindo com uma lua cheia magnífica, a caminhada foi muito astral, a noite estava bem clara e antes de amanhecer, a lua se pôs e ficou noite para logo depois nascer o dia. Chegamos no início da via logo nas primeiras horas da manhã. O objetivo era levar uma corda de 12mm para colocar no trecho do início do diedro para o platô dos Stones e com isto agilizar nas investidas da conquista. O Júnior foi guiando e chegou no trecho em que ele nunca tinha ido, mas mesmo assim resolveu continuar a guiar, fazendo o trechinho em horizontal para a esquerda e chegou numa passadinha mais enjoada que conseguiu passar, na próxima passada, o grampo estava um pouco mais longe e o Júnior ficou abalado, travou a passada e gastou as forças até que caiu, um tombo muito feio, de uns 10 metros

A pancada nas costas aliviou um pouco a cabeça e quando parou de cair, ficou gemendo, um som muito sinistro. Estávamos eu, o Herald e a Tália na parada, o Jonatan estava se preparando para subir e conseguiu ver a hora do tombo.

Tentávamos falar com o Júnior mas ele não respondia e olhando de onde estávamos dava a impressão de estar com as pernas quebradas, mas felizmente foi só impressão. Com muito custo equilibrou-se nas pernas falando coisas sem sentido e pendulou até onde estávamos. Percebemos que estava com amnésia, pois embora nos conhecesse, não sabia onde estava, qual ano estávamos e tudo que conversava esquecia, chegando a perguntar onde estava mais de cinco vezes.

Percebendo a gravidade do acidente, resolvemos ir embora imediatamente e começamos a descida após o Júnior se recuperar o suficiente para descer. A corda foi fixada no último grampo que o Júnior chegou e esticada até quase o início da via.


Sábado e Domingo, 22 e 23 de dezembro de 2001

Saímos de Macaé no início da madrugada de sábado, Eu, Jonathon Null e Julian Lines. Julian é escocês e um dos melhores escaladores de seu país, trabalha com alpinismo industrial e é instrutor de cursos do método IRATA. Após 17 anos escalando, foi aqui em Macaé que bateu seu 1º grampo. Pessoa humilde, simples e sorridente, chama a atenção por onde passa graças ao seu cabelo estilo Gengis Can.

Após conhece-lo tive a oportunidade de apresenta-lo as vias de Macaé, nas quais brincou de escalar. Abrindo vias em paredes verticais (VIIIb) totalmente em móvel. Aprendi muito em sua curta estadia no Brasil. Faltava para Julian conhecer o Frade, e aproveitar para participar da conquista da via, que ainda não tinha nome.

Quando chegamos na base da via, a corda que havíamos deixado na base do 1º grampo, com uma boa sobra enrolada, estava cortada na 2º parada. Alguém havia roubado nossa corda, tinha subido até a base da 2a parada e cortado a corda, fiquei puto, pois era com esta corda que iríamos fixar do platô da água até o platô dos Stones, facilitando assim o nosso rapel.

Iniciamos a escalada bem cedo e dei as honras para o Julian puxar as cordadas. Ele subia com as duas cordas e eu e o Jonathon subíamos de jumar, com as pesadas mochilas. O Julian subiu escalando, mesmo com a corda fixa ao seu lado, chegando rapidamente no grampo onde estava fixada. Recolhemos a corda mesmo sem saber se o restante da corda serviria, e subimos com ela.

Com a tranqüilidade de sempre, Julian passou por um dos lances mais expostos da via, fazendo em seguida o trecho em horizontal para esquerda e chegando no platô da água.

Preparamos o lanche, enchemos as garrafas e o Julian continuou guiando, esticou as próximas 2 enfiadas e entrou no trecho sujo da via, com terra, plantas e pedras, tudo isso bem vertical e com grampo apenas no final dos 40 m.

Passei as dicas para o Julian e este partiu, sem entender porquê não fomos com a via pela esquerda em um trecho de rocha limpa, aliás, nem eu entendo (estarei providenciando a variante para este trecho em breve). A progressão neste trecho foi extremamente lenta, levando quase uma hora para completa-la. Quando nos juntamos na parada, o Julian desabafou um monte de palavrões em inglês e disse que foi um dos piores venenos que tinha passado em 17 anos escalando.

Acima desta parada começa o trepa mato até o ponto de bivaque e já estava quase noite, o Julian não queria mais guiar o trepa mato, então puxei as cordas até o ponto de bivaque o mais depressa possível, pois o frio tinha chegado com o fim da tarde, e ainda teríamos que arrumar todo o acampamento para comer e dormir.

O problema do Jonathon piora e ele tem que descer no dia seguinte. Conversamos sobre as alternativas enquanto comíamos um rango quente (miojo pra variar) e decidimos descer de manhã bem cedo, pois só tínhamos 2 cordas e no rapel tem de usar as duas.

Preparamos as redes e só o Jonathom tinha saco de dormir, eu e o Julian em redinhas de tela, sem saco de dormir, passamos uma friaca terrível e nem conseguimos dormir.

Levantamos no bagaço, menos o Jonathon que tava tranqüilo, e começamos a arrumar as tralhas. Subimos o trepa mato até o próximo grampo do rapel e iniciamos a descida com um vento infernal, quando a corda era puxada, o vento levava a ponta para longe, fazendo com que ela agarrasse logo no segundo rapel. O Julian se prontificou a retira-la e continuamos descendo. A corda bacalhau nova foi fixada do platô da água até o platô dos Stones e coube na medida. Retiramos então a outra que já tava no bagaço. Próximo ao carro, tomamos um banho de riacho para renovar as forças e partimos para Macaé.


Sexta, 08 de fevereiro de 2002

É véspera de carvaval, Fábio Pé desaparece no mar, nadando sabe-se lá para onde, quando soube, no sábado dia 09, acreditei piamente que com sua disposição incrível, conseguiria chegar onde quisesse...

Pessoa incrível, amigo pro que der e vier, exímio nadador, surfista, praticante de pesca submarina e escalador. Tive a honra de lhe ensinar os primeiros passos e logo começou a guiar e conquistar. Aprendemos a escalar juntos e abrimos algumas vias juntos, como o Teto da Santa e o É o Raio.


Sábado, 30 de março de 2002

Retornamos ao Frade, eu, o Jonathon e o Julian, mas desta vez iríamos tentar uma nova via que o Julian queria conquistar, e seguiria reto em vez de cair para a esquerda para pegar o diedrão.


Sábado, Domingo e Segunda, 27, 28 e 29 de julho de 2002

Eu e o Daniel fomos de carona com o Vavá, amigo do Gérson, que está interessado em aprender a escalar, a carona foi o maior luxo, de Pajero até bem próximo da parede. A estrada estava pior do que de costume e deixamos o carro perto de uma tronqueira. Começamos a caminhar ainda de noite, e quando nos aproximamos bem da pedra, o dia foi clareando. Iniciamos a escalada com Daniel guiando e esticando com as duas cordas, íamos atrás de jumar, eu e o Vavá. Na terceira cordada esticada, o Vavá ficou e desceu rapelando, seguimos eu e o Daniel, com a minha mochila e seu hallbag bem carregados. Ele ia à frente sem mochila, rapelava para pegar a mochila e subia de jumar enquanto eu subia jumareando com a mochila mais pesada.

Chegamos no platô dos Stones e aí fui na frente nas cordas fixas, jumareando e costurando onde dava, esticando as duas cordas até o platô da água. O Daniel subiu jumareando a corda fixa e com segurança de cima. Enchemos uma garrafa com água da nascente e comemos alguma coisa. O Daniel partiu para a próxima esticada e avisei da parada em cima da bromélia, mas o maluco subiu mais ainda, usando um pedaço de corda fixa que estava ali em cima, começou a subir jumareando e a corda fixa arrebentou, fazendo com que caísse uns cinco metros e tomasse um graaaande sustinho....

Fixou-se na parada e então me juntei a ele que partiu feroz para fazer a próxima enfiada que é em móvel até a parada dupla. Chegando lá, a próxima esticada era a passada que o Julian havia comentado que tinha passado veneno, mas com um pouco de conversa ele partiu novamente, passando um pouco de veneno também. Levamos todas as tralhas para a parada e deixamos um pedaço de corda fixa no grampo para na próxima investida não ter que passar o mesmo veneno. O Daniel partiu para a última cordada do dia, até o ponto de bivaque, chegamos lá com o pôr do sol, e começamos os preparativos para armar o circo. Fizemos um rango excelente com miojo e suco, com direito a chocolate de sobremesa e uísque para esquentar o frio. Nos jogamos no saco de dormir e tratamos de dormir cedo para acordar cedo e render a escalada.

Durante a madrugada, por volta das duas horas, acordo com a agitação do Daniel, saindo do saco de dormir e dizendo que estava com dor de barriga. Na maior friaca o cara partiu pro puleirinho com o papel higiênico na mão e reclamando do frio, foi hilário.

Acordamos cedo e partimos deixando o acampamento montado para a próxima noite, não sabíamos se iríamos conseguir chegar ou não no cume. O Daniel esticou até o dedinho e me juntei a ele, estávamos muito mais leves e rápidos. O Daniel resolveu bater um grampo logo acima do dedinho pois as agarras estavam podres e com risco de desabar. Enquanto ele furava eu tirava um cochilo, até que terminou e partiu para a próxima parada. Neste ponto para cima a escalada fica mais difícil e a corda que havia deixado por ali tinha sido arrastada pelo vento e não dava para pegar ainda. O Daniel seguiu na cautela e chegou no último grampo da via, segui até o penúltimo e fiquei nele para dar segurança na conquista. Neste ponto o Daniel seguiu pela esquerda, colocando um nut para evitar um pêndulo e bateu o primeiro grampo da conquista, seguiu virando para a esquerda e protegendo em móvel até bater o segundo grampo, continuou reto e protegendo com friend’s nas fendas e bateu o terceiro grampo da conquista. Me juntei ao Daniel e neste ponto o cume já estava bem próximo e bem mais fácil pois a parede dava uma boa tombada, O tempo estava nublado e muito frio, já por volta das 17:00 e resolvemos voltar para o bivaque.

Chegamos no bivaque já de noite e como já estava tudo arrumado, foi só preparar o rango e deitar pra dormir. Ficamos conversando e como estava faltando muito pouco, resolvemos tentar a conquista no próximo dia em vez de ir embora. A noite fez muito frio e chuviscou bastante, o saco de dormir não tava segurando muito a onda e as batidas de queixo eram normais. Lá pelas tantas da madrugada, com o frio no máximo, acordei com o barulho do Daniel saindo da rede já meio desesperado, a dor de barriga estava atacando de novo e na pior hora. A situação era cômica, não conseguia parar de rir e o Daniel reclamando do frio e da chuva. O dia amanheceu nublado e chuviscando e então resolvemos partir de vez. Arrumamos tudo com calma, fizemos um bom lanche e começamos a descer bem agasalhados. O rappel transcorreu bem e chegamos no chão por volta das 14:30 hs, o tempo já havia melhorado e começamos a caminhada, paramos para tomar um merecido banho no riacho e como não tínhamos condução, fomos andando pela estrada pensando em conseguir carona.

A carona não veio e andamos muito, subimos a estrada de Crubixais toda e nada, começamos a descer a estrada de Tapera e nada, quando paramos para descansar, encostei no hall bag do Daniel e percebi que estava levíssimo, embora enorme. Durante a arrumação, como minha mochila era menor, havia colocado as ferragens nela e no hall bag só tinha coisas leves. Resolvi trocar de mochilas na hora, só que o pior da subida já tinha passado. Continuamos a caminhada até a bifurcação para o Distrito do Frade e então apareceu um abençoado ônibus, que nos levou para casa.


Sexta, Sábado e Domingo, 27, 28 e 29 de outubro de 2002

Conquistamos a via... mais detalhes...